Minha avó era uma exímia contadora de histórias. Por isso eu e meus primos sentávamos ao lado dela à noite para ouvi-la contar mais uma. Dessa vez foi a história do bicho folharal.
Segundo ela, havia um macaco e uma onça que viviam em constante estado de alerta, pois um queria ser mais esperto do que o outro para, no momento oportuno, abocanhar um ao outro. Contudo fingiam-se de amigos, na verdade se tratavam de compadre e comadre.
O compadre macaco, certa feita, preparou uma armadilha para a comadre onça. Fez um buraco em frente da casa dele e se fez de desavisado para atrair atenção da "amiga".
Essa, ao observar que o seu compradre estava numa posição de desatenção, não hesitou em correr em direção a ele pronto para dar-lhe "um abraço". Não esperava, no entanto, que tudo não passasse de uma armadilha na qual caiu direitinho.
Ao se ver presa no buraco, comadre onça começou a chorar e a pedir que seu compadre a tirasse daquela situação.
Compadre macaco, embora desconfiado, ficou com dó da comadre e prometeu tirar-lhe, o que aconteceu após várias tentativas.
Comadre onça, ao se ver livre da armadilha, olhou para o compadre com tanta fúria, e dessa vez não procurou escondê-la. Saiu em disparada atrás do compadre macaco, que já estava atrás de uma árvore. Este sumiu das paragens e a onça nunca mais o viu.
Tempos depois aparecia na vizinhança um animal bastante estranho, autodenominado bicho folharal. Ninguém sequer imaginava que se tratava do compadre macaco disfarçado debaixo de muitas folhas coladas com uma espécie de resina conseguida na mata.
Até hoje a comadre onça está à espera de seu compadre para acerta as contas com ele.
domingo, 7 de agosto de 2011
quinta-feira, 4 de agosto de 2011
O HERÓI DA CIÊNCIA*
José era visto pela vizinhança como um rapaz muito estranho. Todas as tardes quando chegava da escola ia embrenhar-se na floresta. Ficava horas a fio ouvindo o canto dos pássaros e o ruído de outros animais que habitavam aquelas matas.
Os pais de José ficavam preocupados ao vê-lo não se importar com coisas que a maioria dos jovens de sua idade gostava: festas, conversas com moças e rapazes do lugarejo em que vivia. Ele já contava 15 anos.
O rapaz só tinha olhos para uma caderneta marrom que guardava a sete chaves em sua gaveta. Vez por outra acrescentava na tal caderneta um dado novo e novamente a escondia.
Era fascinado por animais e plantas e sonhava um dia, quando adulto, trabalhar no Museu Goeldi. Os poucos momentos em que passava em casa, gastava-o assistindo a documentários sobre a vida de animais e plantas.
Os animais também pareciam gostar dele. Sempre que o viam, demonstravam, de alguma forma, que estavam contentes com sua presença.
Conhecia um por um os habitantes daquelas matas e até nomeou alguns que lhe eram mais chegados.
Bom dia, d. Capitu, disse para a anta, que parecia também vir cumprimentá-lo.
Como vai, seu Donato, falou para o quati, que sempre se aproximava quando sentia sua presença.
Certa vez, no meio da mata, ouviu um canto diferente do que se acostumara a ouvir. Era um pássaro novo que se mudara para aquelas paragens. José não perdeu tempo, foi logo saber de quem se tratava.
Mesmo quando pescava, ou fazia alguma outra atividade na mata, sempre ficava atento para um ruído novo.
Num Sábado pela manhã, José entrou cedo na floresta e, à tardinha, quando normalmente retornava para casa, não apareceu.
Pela manhã, os vizinhos puseram-se a procurá-lo. Tudo em vão. Retornaram a busca no dia seguinte. Já quando estavam desistindo da busca, encontraram-no rodeado de alguns animais, todos com ar de tristeza. José estava agonizante. Fora atingido por uma bala de algum caçador inescrupuloso. Horas depois estava morto. Antes de morrer, porém, pediu que não jogassem ou rasgassem aquela caderneta. Era muito importante para ele. Seus pais assim o fizeram.
Alguns anos depois, quando a população já nem lembrava mais daquele moço estranho, apareceu uma equipe de pesquisadores para fazer um levantamento daquela mata. Tomaram conhecimento da tal caderneta de anotação de José.
Diante do que viram, ficaram extasiados. Este jovem fez um levanta-mento minucioso da fauna e flora locais. Os pesquisadores fizeram um estudo do material e, um ano depois, saía uma publicação com os dados que José trouxera à tona.
Aquele moço estranho passou a ser visto como um exemplo de dedicação à ciência e seu nome foi lembrado para batizar aquele bosque. Dizem que até hoje pode-se ouvir o choro dos animais com saudades de José.
_______________
* COSTA, Lairson. Insanidades.Belém: L & A Editora, 2003.
Os pais de José ficavam preocupados ao vê-lo não se importar com coisas que a maioria dos jovens de sua idade gostava: festas, conversas com moças e rapazes do lugarejo em que vivia. Ele já contava 15 anos.
O rapaz só tinha olhos para uma caderneta marrom que guardava a sete chaves em sua gaveta. Vez por outra acrescentava na tal caderneta um dado novo e novamente a escondia.
Era fascinado por animais e plantas e sonhava um dia, quando adulto, trabalhar no Museu Goeldi. Os poucos momentos em que passava em casa, gastava-o assistindo a documentários sobre a vida de animais e plantas.
Os animais também pareciam gostar dele. Sempre que o viam, demonstravam, de alguma forma, que estavam contentes com sua presença.
Conhecia um por um os habitantes daquelas matas e até nomeou alguns que lhe eram mais chegados.
Bom dia, d. Capitu, disse para a anta, que parecia também vir cumprimentá-lo.
Como vai, seu Donato, falou para o quati, que sempre se aproximava quando sentia sua presença.
Certa vez, no meio da mata, ouviu um canto diferente do que se acostumara a ouvir. Era um pássaro novo que se mudara para aquelas paragens. José não perdeu tempo, foi logo saber de quem se tratava.
Mesmo quando pescava, ou fazia alguma outra atividade na mata, sempre ficava atento para um ruído novo.
Num Sábado pela manhã, José entrou cedo na floresta e, à tardinha, quando normalmente retornava para casa, não apareceu.
Pela manhã, os vizinhos puseram-se a procurá-lo. Tudo em vão. Retornaram a busca no dia seguinte. Já quando estavam desistindo da busca, encontraram-no rodeado de alguns animais, todos com ar de tristeza. José estava agonizante. Fora atingido por uma bala de algum caçador inescrupuloso. Horas depois estava morto. Antes de morrer, porém, pediu que não jogassem ou rasgassem aquela caderneta. Era muito importante para ele. Seus pais assim o fizeram.
Alguns anos depois, quando a população já nem lembrava mais daquele moço estranho, apareceu uma equipe de pesquisadores para fazer um levantamento daquela mata. Tomaram conhecimento da tal caderneta de anotação de José.
Diante do que viram, ficaram extasiados. Este jovem fez um levanta-mento minucioso da fauna e flora locais. Os pesquisadores fizeram um estudo do material e, um ano depois, saía uma publicação com os dados que José trouxera à tona.
Aquele moço estranho passou a ser visto como um exemplo de dedicação à ciência e seu nome foi lembrado para batizar aquele bosque. Dizem que até hoje pode-se ouvir o choro dos animais com saudades de José.
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* COSTA, Lairson. Insanidades.Belém: L & A Editora, 2003.
ASSOMBRAÇÃO?
Meu pai me contou essa história acontecida quando ele tinha aproximadamente sete anos.
Como nossa casa ficava ao lado da casa de minha avó, que por sua vez ficava ao lado da casa de minha tia, a parentada toda se reunia à noite para conversar no grande terreiro formado por nossas três casas.
Numa dessas noites, meus avós deixaram meu pai dormindo sozinho em casa. De repente, ouviram um barulho de choro aterrorizante. Era ele que se assustara com alguma coisa que no momento não fora identificada. Como meu pai continuasse em estado de choque e chorando muito, minha bisa, que era rezadeira, começou a dar-lhe passe para que ele se acalmasse.
Depois desse acontecimento e cessado o choro, todos foram dormir.
Qual não foi a surpresa quando pela manhã a vizinha chega perguntando se alguém da família havia visto um papagaio que fugira durante a noite.
Ao ouvir a vizinha contar esse desaparecimento, logo perceberam que o que papai havia visto, e dado como assombração, não passara de um papagaio fugido que fizera barulho e com isso o assustara. Todos começaram a rir e até hoje essa história é contada por meus tios.
Como nossa casa ficava ao lado da casa de minha avó, que por sua vez ficava ao lado da casa de minha tia, a parentada toda se reunia à noite para conversar no grande terreiro formado por nossas três casas.
Numa dessas noites, meus avós deixaram meu pai dormindo sozinho em casa. De repente, ouviram um barulho de choro aterrorizante. Era ele que se assustara com alguma coisa que no momento não fora identificada. Como meu pai continuasse em estado de choque e chorando muito, minha bisa, que era rezadeira, começou a dar-lhe passe para que ele se acalmasse.
Depois desse acontecimento e cessado o choro, todos foram dormir.
Qual não foi a surpresa quando pela manhã a vizinha chega perguntando se alguém da família havia visto um papagaio que fugira durante a noite.
Ao ouvir a vizinha contar esse desaparecimento, logo perceberam que o que papai havia visto, e dado como assombração, não passara de um papagaio fugido que fizera barulho e com isso o assustara. Todos começaram a rir e até hoje essa história é contada por meus tios.
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Quem sou eu
- LAIRSON COSTA
- Belém, Pará, Brazil
- Professor de Língua Portuguesa do Instituto Federal do Pará e Revisor de Textos da Universidade Federal do Pará. Especialista em Teoria Literária e aluno do Mestrado em Linguística/UFPA. Recebeu o prêmio Jabuti em 2001 como editor do livro "A Família Canuto e a Luta Camponesa na Amazônia", de Carlos Cartaxo. Autor dos livros Insanidades, Mosqueiro em Versos, Mosqueiro – Pura Poesia, CEFET – História que inspira poesia, Contando Histórias, Tênis de Mesa no Pará (coautoria com Mauro Macedo), Orientações para a produção textual... (coautoria com José dos Anjos Oliveira), Igreja do Evangelho Quadrangular..., Um Encanto de Ilha e Instituto Federal do Pará: 100 anos de educação profissional. Lançou os CDs Tributo a Mosqueiro e Um Encanto de Ilha.